Mercado de Arrendamento em Portugal: Tendências, Preços e Oportunidades no Setor Imobiliário

Mercado de arrendamento em Portugal: tendências e oportunidades
O mercado de arrendamento em Portugal tem ganho uma relevância crescente na última década. Com a convergência de fatores como o aumento da procura por habitação nas grandes cidades, a entrada de investidores estrangeiros, a escassez de oferta e as alterações na legislação, este segmento apresenta-se hoje como um campo complexo, dinâmico e rico em oportunidades.
Ao longo dos últimos anos, o setor imobiliário português passou por um conjunto de transformações profundas. O período pós-crise financeira, o aumento do turismo, o crescimento dos programas de incentivos à instalação de estrangeiros no país e a procura por rendas estáveis por parte da população local fizeram o mercado ajustar-se a novas realidades. Neste contexto, o arrendamento tornou-se mais do que uma solução habitacional de curto prazo; assumiu-se como uma resposta a longo prazo para inquilinos e proprietários, e uma alternativa ao crédito imobiliário e à compra de casa própria.
Este artigo propõe-se analisar as tendências atuais do mercado de arrendamento em Portugal, abordando preços, políticas públicas, perfis de inquilinos e senhorios, regimes legais e fiscais, além de destacar oportunidades de investimento. Através de uma análise profissional e investigativa, pretendemos oferecer uma visão completa e aprofundada, capaz de orientar investidores, gestores imobiliários, consultores e outros profissionais do setor na tomada de decisões informadas.
Contexto histórico do mercado de arrendamento em portugal
Para compreender o estágio atual, é importante revisitar a evolução histórica do arrendamento no país. Durante grande parte do século XX, Portugal foi um país de proprietários: a cultura e o desejo de ter casa própria estiveram sempre enraizados. No entanto, no pós-25 de Abril, a dinâmica económica e social do país mudou significativamente. A liberalização dos mercados, o acesso mais fácil ao crédito e as políticas de habitação levaram muitas famílias a optarem pela compra em detrimento do arrendamento.
Esse ciclo manter-se-ia durante décadas. Contudo, a crise financeira de 2008-2013 alterou o paradigma. O acesso ao crédito diminuiu, a confiança dos consumidores foi abalada, e muitas famílias passaram a olhar para o arrendamento como uma solução mais flexível e menos onerosa no imediato. Ao mesmo tempo, as cidades portuguesas, especialmente Lisboa e Porto, viram um aumento exponencial do turismo, o que levou a que muitos proprietários convertessem os seus imóveis em alojamentos de curta duração, pressionando a oferta de arrendamento tradicional.
As políticas governamentais também influenciaram o contexto. A Lei das Rendas, alterada em 2012, tentou dinamizar o mercado, tornando as atualizações de renda mais flexíveis. Entretanto, o problema estrutural da falta de oferta de habitação acessível permaneceu latente, resultando em tensões no mercado e num aumento significativo dos preços do arrendamento em zonas centrais.
Perfis de inquilinos e senhorios: quem arrenda e porquê
A procura por arrendamento em Portugal é hoje mais diversa do que nunca. O perfil do inquilino já não se resume ao estudante universitário ou ao jovem casal sem capacidade de compra. Atualmente, encontramos:
- Jovens profissionais: Muitos recém-licenciados ou jovens trabalhadores com mobilidade laboral preferem arrendar por não quererem ficar vinculados a um crédito habitação a longo prazo.
- Famílias em transição: Famílias que optam por arrendar temporariamente enquanto procuram a casa ideal para comprar, ou enquanto atravessam fases de incerteza profissional.
- Imigrantes e expatriados: Trabalhadores estrangeiros, profissionais altamente qualificados, reformados e investidores que chegam ao país atraídos pelo clima, segurança, custo de vida e regime fiscal favorável, muitas vezes optam por arrendar primeiro, antes de uma eventual compra.
- Nómadas digitais: Com o crescimento do trabalho remoto, muitos profissionais estrangeiros e portugueses deslocam-se livremente, optando por arrendar um imóvel sem amarras geográficas.
No lado dos senhorios, o perfil também se diversificou:
- Pequenos proprietários: Pessoas que herdaram imóveis, ou que decidiram investir parte das suas poupanças na compra de um apartamento para arrendar de forma estável e ter um rendimento passivo.
- Empresas imobiliárias e fundos de investimento: Investidores institucionais que apostam em portfolios de arrendamento, equilibrando o risco e procurando rendimentos estáveis no longo prazo.
- Proprietários com imóveis convertidos do alojamento local (AL): Alguns proprietários que antes arrendavam a turistas estão, por questões legais ou de rentabilidade, a transferir parte do seu portefólio para o arrendamento tradicional.
- Investidores estrangeiros: Pessoas oriundas de mercados como o francês, o britânico, o brasileiro, o chinês ou o norte-americano, que veem o mercado português como uma oportunidade para adquirir imóveis e rentabilizá-los no arrendamento de longa duração, especialmente no contexto do fim ou alteração dos programas de Visto Gold.
Tendências recentes na procura e oferta
Nos últimos anos, a procura por imóveis para arrendamento cresceu. Isto explica-se por uma combinação de fatores:
- Dificuldade de acesso ao crédito, especialmente para a população mais jovem.
- Incerteza laboral e necessidade de flexibilidade geográfica.
- Crescimento do turismo e de expatriados, o que impulsionou a procura por arrendamento de média e longa duração.
- Política fiscal, facilidades para residentes não habituais e a perceção de Portugal como um destino seguro e atrativo.
Por outro lado, a oferta de imóveis para arrendar não acompanhou o ritmo da procura, o que se refletiu no aumento dos preços. Várias razões explicam esta lacuna:
- O stock habitacional português é composto maioritariamente por habitação própria, não havendo tradição de grandes parques de habitação para arrendamento.
- A conversão de muitos imóveis em alojamento local diminuiu a oferta de arrendamento tradicional nos centros urbanos.
- A falta de incentivos fiscais robustos para quem coloca imóveis no mercado de arrendamento de longa duração.
- A lentidão na promoção de habitação acessível por parte de entidades públicas e privadas, dificultando a redução dos valores de renda.
A curto e médio prazo, prevê-se que a procura continue elevada, particularmente nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como em zonas emergentes do litoral e do interior, motivada pelo teletrabalho e pela relocalização de famílias e profissionais. A oferta, porém, ainda precisa de incentivos para aumentar e equilibrar o mercado.
Preços do arrendamento: análise geográfica e tipológica
Os preços do arrendamento em Portugal variam substancialmente consoante a localização, tipologia, estado de conservação do imóvel e a existência ou não de mobiliário. As grandes cidades, sobretudo Lisboa e Porto, destacam-se pelos valores mais elevados, ultrapassando frequentemente os 1.000€ mensais por um T2 em zonas centrais. Nos bairros históricos de Lisboa, como a Baixa, o Chiado ou a Graça, as rendas podem chegar a valores bastante superiores, impulsionadas pela forte procura turística, pela escassez de imóveis e pelo perfil socioeconómico dos inquilinos.
No Porto, zonas como a Foz, a Boavista ou o centro histórico apresentam igualmente valores elevados, ainda que geralmente ligeiramente inferiores aos de Lisboa. Contudo, o aumento do turismo e a crescente atratividade da cidade para estrangeiros têm contribuído para a subida dos preços ao longo da última década.
Fora dos centros urbanos mais concorridos, os preços tendem a ser mais acessíveis. Cidades médias, como Braga, Coimbra, Aveiro, Leiria ou Faro, apresentam um mercado mais equilibrado, com rendas médias mais contidas. Apesar de o arrendamento ter vindo a subir nestas localidades, a base de partida era mais baixa, o que ainda permite encontrar oportunidades interessantes para investidores e inquilinos.
Em termos tipológicos, T0 e T1 são muito procurados por jovens trabalhadores e estudantes, o que pressiona o valor destas tipologias. T2 e T3, adequados para famílias, tendem a ter um preço por metro quadrado ligeiramente inferior, mas o custo total é naturalmente mais elevado. Imóveis mobilados, prontos a habitar, ou com características diferenciadoras (terraço, vista, boa eficiência energética, garagem) acrescentam um prémio ao valor da renda.
Legislação do arrendamento: enquadramento legal e alterações recentes
A legislação do arrendamento em Portugal tem sofrido alterações ao longo das últimas décadas. A Lei do Arrendamento Urbano, revista em 2012 (conhecida como Novo Regime do Arrendamento Urbano - NRAU), procurou dinamizar o mercado, facilitando a atualização das rendas e conferindo maior flexibilidade aos contratos. No entanto, algumas medidas foram consideradas desequilibradas, favorecendo excessivamente os senhorios, levando à instabilidade de alguns inquilinos, especialmente idosos com rendas antigas.
Mais recentemente, o governo tem introduzido alterações legislativas com o objetivo de aumentar a oferta de arrendamento acessível e estabilizar o mercado. O Programa de Arrendamento Acessível (PAA) e os incentivos fiscais à colocação de imóveis no mercado a preços reduzidos são exemplos de políticas públicas destinadas a tornar o arrendamento uma opção viável, tanto para senhorios como para arrendatários.
Ainda assim, a complexidade burocrática, os prazos legais para despejos e a dificuldade em fazer cumprir certos aspetos contratuais continuam a ser barreiras. Por outro lado, o estabelecimento de limites ao arrendamento de curta duração e a crescente pressão sobre o alojamento local podem empurrar alguns proprietários de volta ao mercado de arrendamento tradicional, aumentando a oferta e contribuindo para um abrandamento do aumento dos preços.
Fiscalidade e incentivos: como a tributação afeta o arrendamento
A fiscalidade é um dos pilares estruturais do mercado de arrendamento em Portugal. Rendimentos provenientes do arrendamento estão sujeitos a tributação no IRS (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares) ou IRC (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas), consoante o senhorio seja uma pessoa singular ou coletiva. A taxa geral aplicada é de 28% sobre os rendimentos prediais, se não houver opção pelo englobamento.
Contudo, existem diferentes regimes e incentivos fiscais para promover o arrendamento de longa duração a preços acessíveis. Por exemplo, o Programa de Arrendamento Acessível permite reduzir a taxa efetiva de tributação, desde que o imóvel seja arrendado abaixo do preço de mercado. Também existem deduções relacionadas com obras de manutenção e conservação, o que incentiva os proprietários a manterem os imóveis em bom estado, aumentando a qualidade da oferta.
Além disso, alguns municípios adotam políticas fiscais próprias, reduzindo o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) a proprietários que coloquem imóveis no mercado de arrendamento de longa duração a custos controlados. Estas medidas procuram equilibrar o mercado, reduzindo a especulação e promovendo a estabilidade dos preços, ao mesmo tempo que incentivam a existência de casas de qualidade para arrendar.
Impacto do turismo no mercado de arrendamento: alojamento local vs. arrendamento tradicional
O turismo em Portugal, sobretudo a partir de 2014, registou um crescimento impressionante. Este crescimento foi impulsionado pelo boom do alojamento local (AL), impulsionando o surgimento de plataformas como o Airbnb. Muitos proprietários optaram por converter imóveis para AL, fugindo do arrendamento tradicional. O resultado foi uma redução da oferta e a subida das rendas de longa duração, especialmente nos centros históricos de Lisboa e Porto.
No entanto, com o aumento da regulação do AL, a maior fiscalização e a imposição de limites à emissão de novas licenças em determinadas zonas, o mercado começa a ajustar-se. Para alguns proprietários, a volatilidade do turismo e a necessidade de cumprir requisitos legais e fiscais no AL torna o arrendamento tradicional novamente atrativo. A estabilidade de rendimento, a menor complexidade na gestão, a menor rotatividade de inquilinos e a garantia de um fluxo constante de renda mensal pesam cada vez mais na decisão de alguns investidores.
Contudo, é preciso equilibrar estas tendências. O turismo continua a ser um motor da economia portuguesa, e o AL permanece como uma estratégia rentável em muitos casos. A tendência poderá passar por um cenário híbrido: proprietários com alguns imóveis dedicados ao AL e outros ao arrendamento de longa duração, diversificando assim o portefólio e reduzindo riscos. Esta estratégia pode igualmente beneficiar o mercado, gerando um equilíbrio entre oferta e procura que evite explosões inflacionárias dos preços.

A crescente influência dos investidores estrangeiros
Portugal tornou-se um destino de investimento imobiliário internacional nos últimos anos. Programas como o Visto Gold (Golden Visa), o Regime do Residente Não Habitual (RNH) e a estabilidade política e social do país contribuíram para esta dinâmica. Investidores estrangeiros de diversas nacionalidades aproveitaram a oportunidade para adquirir imóveis, muitos dos quais destinados ao arrendamento.
Estes investidores veem em Portugal um mercado relativamente estável, com potencial de valorização a médio prazo, apoio legal robusto e um regime fiscal competitivo. Com o aumento do custo de vida e da tributação noutros países da Europa, Portugal destaca-se pela qualidade de vida e pelos rendimentos potenciais. A entrada de capitais estrangeiros trouxe mais liquidez ao mercado, mas também contribuiu para a subida dos preços, dificultando o acesso à habitação por parte dos residentes locais.
A recente reavaliação do programa de Visto Gold, o endurecimento de critérios de atribuição e a possibilidade de focar o investimento em zonas do interior do país, podem alterar o mapa de oportunidades. Os investidores mais flexíveis poderão optar por áreas em crescimento no interior, dinamizando mercados locais que anteriormente não estavam no radar do investimento internacional. Isto poderá resultar num maior equilíbrio territorial na oferta de arrendamento.
Políticas públicas de habitação: os desafios e as tentativas de solução
A política de habitação é hoje um dos temas centrais do debate público em Portugal. O aumento dos preços do arrendamento, a dificuldade de acesso dos jovens à habitação e a carência de habitação social pressionam o governo e as autarquias a adotarem medidas mais assertivas. Entre estas, destacam-se:
- Programa de Arrendamento Acessível (PAA): Incentivos fiscais para proprietários que ofereçam rendas abaixo do valor de mercado, garantindo rendimentos isentos ou com taxas reduzidas.
- Construção de habitação pública: O Estado e os municípios tentam aumentar o parque habitacional público, disponibilizando imóveis a preços controlados. Contudo, a execução é lenta, e a procura supera a oferta disponível.
- Reabilitação urbana: Programas de reabilitação de edifícios degradados no centro das cidades, transformando-os em habitação para arrendamento, tornando as áreas centrais mais acessíveis e habitáveis para residentes de classe média e baixa.
- Limitação ao AL e proteção de inquilinos: A implementação de quotas e restrições ao alojamento local, bem como a adoção de medidas para prevenir a especulação imobiliária. Isto inclui a fixação de períodos mínimos de contrato de arrendamento e incentivos ao arrendamento de longa duração.
O grande desafio está em encontrar um equilíbrio entre garantir rendas justas, assegurar um retorno atrativo para os proprietários e manter um mercado saudável e dinâmico. As políticas precisam de ser bem calibradas, para que não afastem o investimento privado, que é fundamental para aumentar a oferta, nem deixem de proteger os inquilinos mais vulneráveis.
Arrendamento estudantil: um nicho estratégico
O mercado de arrendamento estudantil é um segmento específico mas muito relevante em cidades universitárias como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Aveiro. A cada ano letivo, milhares de estudantes nacionais e estrangeiros procuram quartos ou pequenos apartamentos para arrendar. Esta procura constante garante uma elevada taxa de ocupação e um fluxo de rendas estável.
Por outro lado, as residências universitárias públicas não conseguem suprir a totalidade da procura, criando uma oportunidade para proprietários. Contudo, há também a necessidade de adaptar os imóveis às necessidades destes inquilinos: proximidade da universidade, bons acessos a transportes públicos, existência de mobiliário básico, internet de qualidade e flexibilidade nos contratos.
O arrendamento estudantil também enfrenta desafios, como a sazonalidade. Alguns estudantes ficam apenas durante o período letivo, deixando os imóveis vagos no verão. Ainda assim, muitos proprietários compensam esta quebra arrendando a estudantes internacionais ou estagiários que chegam ao país em diferentes alturas do ano, mantendo uma ocupação relativamente constante.
Arrendamento corporativo e para expatriados: oportunidades emergentes
Grandes empresas internacionais, consultoras, instituições financeiras e tecnológicas têm vindo a instalar-se em Portugal. Atraídas pela qualidade de vida, mão de obra qualificada e custos operacionais relativamente baixos, estas empresas trazem ao país profissionais estrangeiros, muitas vezes com pacotes de relocação generosos.
Este perfil de inquilinos procura, geralmente, imóveis de qualidade, bem localizados, mobilados, com todos os equipamentos e prontos a habitar. Estão dispostos a pagar rendas mais elevadas, desde que a oferta corresponda às suas expetativas. Este tipo de arrendamento – às vezes intermediado por agências especializadas – garante rendimentos estáveis e reduz o risco de incumprimento.
A oportunidade aqui reside na adaptação da oferta a estas necessidades: imóveis com boa eficiência energética, equipamentos modernos, espaços de coworking próximos, acesso fácil a transportes, parques e restaurantes de qualidade. Assim, os proprietários que posicionam o seu portefólio para este segmento encontram potencial para margens de lucro mais interessantes e menor volatilidade.
O papel da tecnologia no mercado de arrendamento
A tecnologia transformou profundamente o mercado imobiliário. Plataformas de anúncio de imóveis, visitas virtuais, contratos digitais, sistemas de gestão de arrendamentos e análise de dados estatísticos sobre preços, procura e oferta mudaram a forma como proprietários, inquilinos e investidores interagem.
Hoje, um senhorio pode gerir remotamente vários imóveis, otimizar o valor das rendas, selecionar inquilinos com base em critérios pré-definidos e monitorizar pagamentos de forma automática. Por seu lado, os inquilinos podem pesquisar centenas de imóveis online, comparar preços, localizações, fotos e condições sem ter de percorrer as ruas da cidade.
A transparência de informação, potenciada pela tecnologia, ajuda a tornar o mercado mais eficiente. Os preços tendem a refletir melhor a realidade, e a opacidade do passado vai dando lugar a dados mais concretos e atualizados. Isto não apenas ajuda a equilibrar oferta e procura, mas também a criar oportunidades de investimento mais informadas, reduzindo a probabilidade de decisões baseadas em impressões subjetivas.
Sustentabilidade e eficiência energética: o futuro do arrendamento
A sustentabilidade e a eficiência energética são temas cada vez mais centrais no imobiliário. Regulamentações europeias e nacionais impõem padrões mínimos de eficiência para os edifícios, incentivando a implementação de soluções amigas do ambiente, como painéis solares, isolamento térmico de qualidade, janelas eficientes e sistemas de aquecimento e refrigeração mais sustentáveis.
Os inquilinos valorizam cada vez mais estes aspetos, não apenas por questões ambientais, mas também pelo impacto que estas características têm no conforto e na redução das despesas mensais. Um imóvel energeticamente eficiente pode resultar em faturas de eletricidade e gás mais baixas, tornando-se assim mais atrativo para o arrendamento.
Para os proprietários, investir na eficiência energética aumenta o valor do imóvel, permite pedir uma renda superior e reduz a rotatividade de inquilinos, satisfeitos com a qualidade do espaço. Além disso, poderá haver, no futuro, mais incentivos fiscais e subsídios públicos para a reabilitação energética de edifícios, criando um ciclo virtuoso de melhoria do parque habitacional nacional.
Perspetivas futuras do mercado de arrendamento em portugal
O mercado de arrendamento em Portugal enfrenta desafios, mas também apresenta oportunidades promissoras. A urbanização crescente, a mobilidade laboral e o interesse internacional mantêm a procura elevada, enquanto a oferta necessita de ajustes, seja através de incentivos públicos, investimentos privados ou novas formas de habitação.
No médio prazo, é possível que o mercado se torne mais equilibrado, com uma maior oferta de imóveis a preços acessíveis, impulsionada por políticas de habitação, incentivos fiscais e a conversão de imóveis anteriormente destinados ao alojamento local. É também provável que surjam novas soluções habitacionais, como coliving, arrendamento institucional e projetos de habitação modular, adequando-se às necessidades de uma população cada vez mais diversificada e exigente.
A consolidação da tecnologia e a valorização da sustentabilidade vão moldar o futuro do arrendamento. Os imóveis mais procurados serão aqueles que conciliam localização, qualidade, eficiência energética e flexibilidade contratual. Os proprietários e investidores que se adaptarem a estas tendências terão mais hipóteses de beneficiar do potencial de valorização e rentabilidade que o mercado de arrendamento português oferece.
Estratégias de investimento para proprietários e gestores imobiliários
Para quem pretende entrar ou expandir no mercado de arrendamento em Portugal, há várias estratégias que podem ser consideradas:
- Localização e segmentação: Investir em zonas emergentes, próximas de polos universitários, tecnológicos ou em bairros em processo de requalificação, pode gerar uma elevada procura e rendas interessantes.
- Diversificação de portefólio: Não colocar todos os imóveis no mesmo tipo de arrendamento. Combinar arrendamento tradicional, estudantes, expatriados e, em menor escala, AL, pode reduzir riscos.
- Reabilitação e valorização do imóvel: Investir em melhorias, remodelações e atualização de equipamentos, tornando o imóvel mais atraente, eficiente e confortável, permitindo um ajuste positivo na renda.
- Aproveitamento de incentivos fiscais: Estudar as várias opções disponíveis, desde o Programa de Arrendamento Acessível até deduções fiscais, reduzindo a carga tributária e aumentando a rentabilidade líquida.
- Gestão profissionalizada: Contar com o apoio de consultoras imobiliárias, gestores de arrendamento e advogados especializados, assegurando uma gestão eficiente, cumprimento da legislação e mitigação de riscos.
Estas estratégias não garantem o sucesso, mas aumentam significativamente as probabilidades de obter um retorno satisfatório. Num mercado complexo e em constante evolução, a informação e o planeamento são essenciais.
O arrendamento face aos ciclos económicos e crises globais
A história mostra que o mercado de arrendamento é resiliente face a crises económicas, embora não seja imune. Em períodos de recessão, o acesso ao crédito dificulta a compra de casa própria, o que faz com que o arrendamento se torne uma opção mais procurada. Por outro lado, a redução do poder de compra pode pressionar as rendas para baixo, especialmente em zonas menos valorizadas.
A pandemia de COVID-19, por exemplo, trouxe alterações súbitas: o turismo praticamente estagnou, levando muitos proprietários de AL a colocar imóveis no mercado de arrendamento convencional, aumentando a oferta e pressionando os preços. Com a retoma económica, o mercado volta a ajustar-se, refletindo a nova realidade.
Investidores e proprietários que encararem o arrendamento numa perspetiva de longo prazo tendem a sair mais robustos destas oscilações. O foco na qualidade do imóvel, na eficiência da gestão e na adaptação às mudanças legislativas e sociais é a melhor forma de garantir estabilidade num ambiente de incertezas.
O papel das autarquias e a descentralização do mercado
As autarquias portuguesas têm um papel crescente no mercado de arrendamento. A definição de regulamentos para o alojamento local, a promoção de habitação acessível, a melhoria dos transportes públicos e a revitalização dos centros urbanos impactam diretamente a atratividade do arrendamento.
À medida que o preço do arrendamento em Lisboa e Porto atinge patamares elevados, outras cidades beneficiam de um efeito de transbordo. Cidades médias, bem servidas de infraestruturas e próximas de polos industriais ou académicos, podem tornar-se destinos atrativos. Esta descentralização do mercado contribui para mitigar o excesso de procura e valorizar o território nacional de forma mais equilibrada.
As autarquias, ao investirem em políticas habitacionais, infraestruturas e transportes, criam condições para que o arrendamento floresça fora dos centros tradicionais. Isto amplia o leque de oportunidades para investidores e para inquilinos, dispersando os riscos e reduzindo a pressão sobre as maiores metrópoles.
Conclusão: um mercado em mutação, repleto de possibilidades
O mercado de arrendamento em Portugal encontra-se num momento decisivo. As dinâmicas de procura e oferta, as alterações legislativas, o impacto do turismo, a chegada de investidores estrangeiros, a influência da tecnologia e a valorização da eficiência energética convergem para um cenário complexo e desafiante.
Contudo, é neste contexto que emergem oportunidades reais. Um mercado mais maduro, com informação transparente, mecanismos de regulação mais afinados e maior diversidade de perfis de inquilinos e senhorios, pode dar origem a relações contratuais mais equilibradas, rendas mais justas e uma oferta mais adaptada às necessidades da população.
Para profissionais do setor, desde investidores a gestores imobiliários, consultores, advogados ou analistas, a chave está em acompanhar estas tendências de perto, investir na qualidade do produto, compreender o quadro legal e fiscal, e posicionar-se de forma proativa num mercado que promete continuar a evoluir. O arrendamento em Portugal é hoje uma área fértil em oportunidades, desde que abordada com conhecimento, estratégia e visão de longo prazo.