Crowdfunding Imobiliário: Como Investir em Grupo

Crowdfunding imobiliário: como investir em grupo
O mercado imobiliário em Portugal tem vindo a transformar-se, albergando tendências inovadoras que abrem novas oportunidades tanto para pequenos investidores como para grandes fundos internacionais. Entre essas tendências, o crowdfunding imobiliário destaca-se pela forma colaborativa de reunir capital para projetos variados, desde pequenas reabilitações urbanas até empreendimentos de grande escala. Nesta abordagem, múltiplos investidores unem forças, partilhando riscos e recompensas, numa dinâmica que democratiza o acesso ao sector imobiliário.
O presente artigo tem como objetivo analisar este fenómeno de forma abrangente, investigando o seu surgimento, regulamentação, benefícios, e ainda abordando estratégias que podem ser adoptadas para maximizar retornos. Dirige-se sobretudo a leitores em Portugal, interessados em conhecer os contornos desta modalidade de investimento, com foco nas particularidades legais e fiscais do mercado português.
Boa leitura, e que este artigo lhe sirva de ponto de partida para uma jornada de sucesso no crowdfunding imobiliário.
Introdução
O sector imobiliário é tradicionalmente visto como um dos mercados mais sólidos para investir, mesmo perante períodos de volatilidade económica. Em Portugal, o interesse em imóveis tem crescido impulsionado por vários factores: turismo, programas de incentivo à reabilitação urbana, crescimento dos centros urbanos e procura por arrendamento de curta e longa duração.
No entanto, o investimento imobiliário convencional, muitas vezes, exige grandes somas de capital e assume riscos significativos associados a flutuações de mercado, vacâncias e custos de manutenção. Nesse contexto, o crowdfunding imobiliário emerge como uma alternativa atractiva, permitindo que um grupo de pessoas se junte para financiar empreendimentos no ramo de forma organizada, com um investimento inicial muito mais reduzido do que se cada investidor tentasse adquirir ou desenvolver um imóvel individualmente.
A proposta deste artigo é explicar em detalhe como esta forma de financiamento colaborativo funciona em Portugal, quais os procedimentos legais e fiscais a ter em conta, e que oportunidades e desafios surgem para quem decide participar. Vamos analisar os passos necessários para começar a investir, os riscos envolvidos e as estratégias de diversificação que podem fazer a diferença para o pequeno e médio investidor.
O que é crowdfunding e como surgiu
O termo “crowdfunding” combina as palavras “crowd” (multidão) e “funding” (financiamento). Descreve um modelo de angariação de fundos em que várias pessoas contribuem com pequenas ou médias quantias para sustentar um projecto, negócio ou ideia, geralmente através de plataformas online. Embora o conceito de juntar fundos para financiar um objectivo comum não seja propriamente novo na história da humanidade, o “crowdfunding” na sua forma moderna ganhou expressão nas últimas duas décadas, fortemente impulsionado pelas novas tecnologias e pela ascensão da internet.
Historicamente, antes do advento da internet, organizações filantrópicas, grupos comunitários ou fãs de determinado artista já se mobilizavam para contribuir, cada um na medida das suas possibilidades, para o sucesso de um projecto. Porém, hoje em dia, as plataformas digitais permitem reunir investidores e empreendedores em escala global, transformando completamente a dinâmica de captação de recursos.
Em Portugal, o fenómeno começou a ganhar notoriedade sobretudo a partir de 2010, quando surgiram as primeiras plataformas focadas em causas sociais, artísticas e criativas. Mais tarde, com a evolução do mercado, o crowdfunding passou também a abarcar oportunidades mais abrangentes, como a área imobiliária, possibilitando a democratização do investimento, pois deixa de ser necessário um capital vultuoso para entrar no sector. Assim, o crowdfunding imobiliário nasce como uma vertente específica deste ecossistema colaborativo, focada na aplicação de recursos em projetos de construção, reabilitação ou compra de imóveis.
O que é crowdfunding imobiliário
Crowdfunding imobiliário é uma modalidade de financiamento colectivo focada na aquisição, construção ou renovação de bens imóveis. Em vez de depender de um único investidor, o projecto imobiliário recebe fundos de várias pessoas, cada uma contribuindo com uma determinada quantia, que pode variar desde valores bastante acessíveis até valores consideravelmente elevados, dependendo da plataforma e do tipo de projecto.
Esta forma de investimento facilita o acesso de pequenos e médios investidores ao mercado imobiliário, que, de outra forma, estaria fora do seu alcance devido aos altos custos de aquisição e manutenção de propriedades. A lógica é simples: ao dividir as despesas entre múltiplos participantes, cada um deles assume uma fracção do capital e, ao mesmo tempo, partilha do retorno potencial do projeto, seja através de juros fixos (modelo de dívida) ou da apreciação do imóvel e respectivo lucro em venda ou arrendamento (modelo de equity).
O crowdfunding imobiliário pode incidir sobre diferentes tipos de empreendimentos. Alguns exemplos incluem:
- Reabilitação urbana: Projectos de restauração de prédios antigos em cidades históricas para fins de habitação, alojamento turístico ou comércio.
- Construção de raíz: Financiamento de novos empreendimentos habitacionais, edifícios de escritórios ou espaços comerciais.
- Compra para arrendamento: Aquisição de imóveis com vista ao arrendamento residencial ou comercial, gerando rendimentos periódicos para os investidores.
- Projectos mistos: Combinam várias finalidades, como habitação, comércio e serviços, criando ambientes multifuncionais.
Independentemente do tipo de projecto, a essência do crowdfunding imobiliário mantém-se: democratizar o acesso ao mercado, partilhando riscos e benefícios de forma equilibrada.
Vantagens de investir em crowdfunding imobiliário
O crowdfunding imobiliário apresenta uma série de vantagens para quem deseja participar no mercado imobiliário em Portugal. Ainda que existam também riscos e desafios, vale a pena destacar os principais benefícios que tornam esta modalidade uma opção interessante.
1. Acesso facilitado ao mercado imobiliário
Tradicionalmente, para investir num imóvel, era necessário dispôr de uma quantia significativa para a entrada e, muitas vezes, contrair créditos bancários onerosos. Com o crowdfunding, é possível começar com valores bastante mais acessíveis, permitindo ao investidor participar em projectos que, de outra forma, estariam muito acima das suas possibilidades financeiras.
2. Diversificação de portefólio
Diversificar é uma das regras básicas de uma estratégia de investimento de sucesso. Ao participar em múltiplos projetos de crowdfunding, o investidor consegue distribuir o risco, minimizando o impacto de possíveis quebras ou atrasos num projecto específico. Em vez de colocar todo o capital num único imóvel, pode optar por financiar vários empreendimentos em diferentes localizações e segmentos.
3. Participação em projetos de alto valor agregado
Alguns projectos imobiliários são de grande envergadura e acabam por gerar bons retornos, seja pela valorização do activo ou pelos rendimentos de arrendamento. Através do crowdfunding, um investidor comum pode participar em empreendimentos que antes eram restritos a grandes investidores institucionais.
4. Transparência e acompanhamento em tempo real
Muitas plataformas de crowdfunding imobiliário disponibilizam relatórios periódicos, actualizações de progresso do projecto e dados financeiros que permitem ao investidor acompanhar de perto como o seu dinheiro está a ser usado. Essa transparência reforça a confiança e oferece maior controlo sobre as decisões de manter ou resgatar o investimento.
5. Comunidade de investidores e partilha de conhecimento
O investimento colaborativo não se limita apenas à parte financeira. Frequentemente, as plataformas ou comunidades de crowdfunding oferecem fóruns, reuniões e eventos que facilitam a troca de experiências e o networking entre investidores. Esse convívio pode ajudar na aquisição de novos conhecimentos, partilha de estratégias e formação de parcerias para outros negócios.
Riscos e desafios do crowdfunding imobiliário
Por mais que o crowdfunding imobiliário apresente benefícios, é fundamental não ignorar os riscos inerentes a esta modalidade de investimento. Analisar cuidadosamente as ameaças potenciais ajuda a tomar decisões mais informadas e a gerir expectativas de retorno.
1. Risco de mercado
O valor dos imóveis pode ser afectado por várias circunstâncias, tais como flutuações económicas, alterações na procura, variações nas taxas de juro ou mudanças nas políticas habitacionais. Mesmo que um projecto seja promissor, poderá sofrer abrandamentos ou perdas devido a factores alheios à vontade dos promotores e investidores.
2. Risco de execução do projecto
Projectos imobiliários exigem licenças, mão de obra especializada, materiais de construção, logística e planeamento rigoroso. Atrasos ou falhas no cumprimento de prazos podem comprometer a rentabilidade de um investimento. Além disso, se o projecto não for concluído, os investidores podem ver o seu capital retido ou mesmo perdido.
3. Risco de liquidez
Ao contrário de acções de empresas cotadas em bolsa, por exemplo, vender rapidamente a participação num projecto de crowdfunding imobiliário pode ser complexo. As plataformas nem sempre disponibilizam mercados secundários activos, e mesmo quando existem, podem não garantir um valor adequado ou imediato pela fracção do investimento. Assim, é importante o investidor ter consciência de que, muitas vezes, o capital fica imobilizado até ao final do projecto.
4. Falta de regulação específica ou desactualizada
Embora a legislação portuguesa já abranja o crowdfunding, a regulação aplicada a este tipo de investimento ainda está em evolução. Lacunas legais ou ambiguidades podem resultar em conflitos e incertezas, especialmente quando existem problemas com os promotores do projeto ou com as plataformas que gerem o capital dos investidores.
5. Potencial falta de transparência e due diligence
Nem todas as plataformas de crowdfunding têm o mesmo nível de rigor no que se refere à análise de projetos, verificação de promotores e divulgação de informação aos investidores. A falta de transparência pode levar à selecção de projectos pouco fiáveis, aumentando a probabilidade de inadimplência ou fraudes.
Apesar dos riscos, muitos deles podem ser mitigados com pesquisas aprofundadas, análise do histórico das plataformas, e diversificação dos investimentos. Assim como em qualquer área, a informação detalhada e a cautela são aliadas essenciais.
Regulamentação em Portugal
Em Portugal, a Lei n.º 102/2015, de 24 de agosto, veio estabelecer o enquadramento legal para as actividades de financiamento colaborativo, incluindo o crowdfunding imobiliário. Posteriormente, surgiram portarias e regulamentações complementares que definiram as competências e deveres das entidades que pretendem operar neste sector. É fundamental, para o investidor, compreender os principais pontos regulatórios:
1. Registo e autorização
As plataformas de crowdfunding são obrigadas a registar-se junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para poderem oferecer serviços de investimento. A CMVM é responsável por supervisionar a actuação destas plataformas, garantindo que são cumpridos requisitos de idoneidade, solidez financeira e transparência.
2. Limitação ao investimento
Existem regras que visam proteger o pequeno investidor, como limites para o montante que pode ser investido em cada projecto ou anualmente, sem que o investidor se torne considerado profissional ou que existam exigências de reporting mais elevadas. Essas limitações variam consoante a estrutura legal do produto de investimento e a tipologia de investidores.
3. Requisitos de divulgação de informação
As plataformas têm a obrigação de divulgar informações relevantes sobre os projectos, incluindo riscos, estimativas de retorno, experiência dos promotores e condições contratuais. No caso de investimentos em equity, existem formatos padrão de prospetos simplificados que devem ser disponibilizados aos investidores, especialmente em projectos de maior dimensão.
4. Salvaguardas para conflitos de interesses
A legislação prevê mecanismos que visam prevenir ou mitigar potenciais conflitos de interesses entre as plataformas, os promotores e os investidores. Por exemplo, quando a plataforma ou os seus gestores têm participações nos projectos, devem ser divulgadas condições claras e transparentes.
5. Fiscalidade
No que toca a impostos, os rendimentos provenientes de crowdfunding imobiliário podem ser considerados rendimentos de capitais (juros) ou de mais-valias (no caso de vendas de participações), dependendo da estrutura escolhida. É recomendável que cada investidor consulte um contabilista ou jurista para esclarecer qual o regime fiscal aplicável a cada situação específica.
Plataformas de crowdfunding imobiliário disponíveis
O mercado português de crowdfunding imobiliário tem vindo a ganhar maturidade nos últimos anos, com o aparecimento de várias plataformas dedicadas especificamente a projectos imobiliários, bem como outras generalistas que também oferecem oportunidades neste segmento. Aqui ficam alguns exemplos de plataformas que operam em Portugal ou que incluem projectos imobiliários no país, ilustrando a diversidade de opções disponíveis:
1. Housers
Uma das pioneiras no crowdfunding imobiliário na Península Ibérica, a Housers apresenta projectos em Espanha, Itália e Portugal, permitindo investimentos a partir de montantes relativamente baixos. Oferece diferentes tipos de projectos, desde a aquisição para arrendamento até à compra e venda de imóveis.

Passos para começar a investir
Investir em crowdfunding imobiliário, embora seja mais acessível que adquirir imóveis de forma tradicional, exige uma abordagem cautelosa e estruturada. Abaixo, destacamos alguns passos essenciais para começar:
1. Defina o seu objectivo de investimento
Antes de tudo, pergunte-se: qual o propósito deste investimento? Pretende obter um retorno rápido, a médio ou a longo prazo? Procura receitas periódicas de arrendamento ou mais-valias provenientes da venda do imóvel? Perceber o seu objectivo ajuda a filtrar as oportunidades que melhor correspondem às suas necessidades.
2. Escolha a plataforma e faça o registo
Analise diversas plataformas de crowdfunding imobiliário, comparando aspectos como o histórico de projectos, taxas, transparência e feedback de outros utilizadores. Após seleccionar uma ou mais plataformas de confiança, faça o registo, que normalmente exige dados pessoais e comprovativos de identificação para cumprir as exigências legais (KYC – Know Your Customer).
3. Selecione projectos com base em critérios sólidos
Leia atentamente as informações sobre cada projecto: localização do imóvel, promotor, prazos de execução, estimativas de retorno e estratégias de saída. Analise a viabilidade, tendo em conta não apenas as promessas de rentabilidade, mas também o contexto do mercado, a credibilidade do promotor e as possíveis restrições legais. Comparar diversos projectos ajuda a ter uma percepção mais clara de qual oferece uma relação risco/retorno mais adequada ao seu perfil.
4. Diversifique
Um dos grandes benefícios do crowdfunding é a possibilidade de investir pequenas quantias em vários projectos, reduzindo assim o risco global. Evite colocar todo o seu capital num único empreendimento, pois caso surjam problemas, terá uma exposição total a esse risco. Procurar projectos em diferentes zonas geográficas, com prazos distintos e promotores diferentes, pode aumentar as hipóteses de equilibrar perdas e ganhos.
5. Analise a documentação e formalize o investimento
Antes de confirmar a aplicação do seu dinheiro, revise a documentação contratual fornecida pela plataforma ou pelo promotor. Verifique as condições de devolução do capital, as taxas de administração, a política de distribuição de lucros ou juros, e quaisquer penalizações em caso de atrasos. Uma leitura atenta do contrato e a consulta de um advogado ou contabilista podem evitar surpresas desagradáveis no futuro.
6. Acompanhe o projecto e mantenha-se informado
Depois de investir, continue a acompanhar as actualizações disponibilizadas pela plataforma. Muitos projectos fornecem relatórios mensais ou trimestrais, informando o estado das obras, vendas ou alugueres, e a evolução financeira do empreendimento. Caso surja alguma dúvida, questione a plataforma ou procure um fórum de investidores para obter esclarecimentos adicionais.
Estratégias de diversificação
A diversificação é uma das chaves para o sucesso em qualquer tipo de investimento, e o crowdfunding imobiliário não é excepção. Além de selecionar vários projectos dentro da mesma plataforma, existem outras dimensões de diversificação que podem ser consideradas:
1. Diferentes plataformas
Cada plataforma tem o seu catálogo de projectos e a sua forma de avaliar e apresentar oportunidades. Investir em mais de uma plataforma pode diluir o risco de falha de uma entidade específica, sobretudo em eventuais cenários de insolvência ou dificuldades de gestão. Ao mesmo tempo, expõe o investidor a um conjunto mais amplo de projectos e mercados.
2. Geografia diversificada
Embora se prefira investir em imóveis na região onde se vive ou que se conhece bem, uma estratégia mais arrojada pode passar por investir em diferentes cidades ou até noutros países. Se uma localidade sofrer uma queda acentuada na procura imobiliária, a exposição em outras zonas pode compensar essas perdas.
3. Diferentes tipos de projecto
Existe uma ampla variedade de segmentos no mercado imobiliário: residencial, comercial, turístico, industrial, de logística, entre outros. Cada um tem dinâmicas próprias e está sujeito a factores de mercado específicos. Ao misturar projectos residenciais com projectos de escritórios ou de comércio, o investidor pode equilibrar melhor os riscos.
4. Variação nos prazos de investimento
Alguns projectos têm prazo de execução mais curto, oferecendo liquidez relativamente rápida. Outros visam retornos mais altos, mas exigem um bloqueio de capital prolongado. Combinar prazos distintos pode ajudar a ter sempre uma parte do capital disponível no curto ou médio prazo, ao mesmo tempo que se aposta em investimentos de longo prazo.
5. Modelo de financiamento
No crowdfunding imobiliário, podem existir projectos baseados em dívida (onde o investidor recebe juros) ou em equity (participação societária com divisão de lucros). A diversificação entre estes dois tipos de modelo pode permitir equilibrar rendimentos passivos com possíveis mais-valias futuras.
Casos de sucesso em Portugal
O crowdfunding imobiliário em Portugal ainda é um fenómeno relativamente recente, mas já há registos de casos bem-sucedidos que demonstram o seu potencial. Alguns desses casos envolvem a reabilitação de imóveis em centros históricos, a construção de novos empreendimentos residenciais e até a modernização de pequenas unidades hoteleiras. Eis dois exemplos hipotéticos que ilustram como o crowdfunding imobiliário pode funcionar:
1. Reabilitação de edifício no centro do Porto
Um promotor identificou um edifício centenário, em mau estado, no centro histórico do Porto. Com uma arquitectura singular e um valor cultural inestimável, o imóvel encontrava-se subaproveitado. O promotor, sem capital suficiente para suportar todas as obras, lançou um projecto de crowdfunding imobiliário para reabilitar o espaço, transformando-o em apartamentos de alojamento local e residências para arrendamento de média duração. Através de uma plataforma registada na CMVM, conseguiu angariar fundos de mais de 300 pequenos investidores, cada um contribuindo com montantes a partir de 1.000 euros. O projecto foi concluído dentro do prazo, os apartamentos foram comercializados, e os investidores receberam o seu retorno com base nos lucros gerados pelas vendas e pela renda.
2. Construção de moradias sustentáveis em Setúbal
Outro caso envolveu uma empresa focada em construção sustentável, que pretendia erguer um conjunto de moradias ecológicas nos arredores de Setúbal. As casas foram planeadas com painéis solares, aproveitamento de águas pluviais e materiais reciclados, visando um público com consciência ambiental. Para dar vida ao projecto, o promotor decidiu recorrer ao crowdfunding imobiliário, propondo um modelo de equity, no qual os investidores se tornariam sócios e partilhariam os lucros resultantes da venda das moradias. A campanha de financiamento foi um sucesso, despertando o interesse de investidores preocupados com práticas de construção verde, e o projecto foi executado dentro do previsto. Os primeiros compradores ficaram satisfeitos com a qualidade e eficiência das casas, resultando em avaliações positivas e facilitando a venda de todas as unidades.
Estes exemplos ilustram como o crowdfunding imobiliário pode servir de ponte entre empreendedores visionários e investidores motivados. Trata-se de um cenário onde todos podem sair a ganhar: o promotor obtém o capital necessário sem depender exclusivamente de bancos, o investidor acede a projectos imobiliários promissores com menor exposição individual, e a comunidade local beneficia da revitalização urbana ou de soluções habitacionais inovadoras.
Questões legais e fiscais
A questão tributária e legal é de grande relevância para quem pretende investir em crowdfunding imobiliário. Em termos gerais, os rendimentos auferidos podem ser classificados como:
1. Rendimentos de capitais (juros)
Se o modelo de investimento for baseado em dívida, com pagamento de juros aos investidores, então esses juros podem ser considerados rendimentos de capitais e, em Portugal, sujeitos a tributação segundo as regras do IRS. Por vezes, é aplicada uma taxa liberatória, mas o investidor pode optar pelo englobamento, dependendo de cada caso.
2. Mais-valias
Nos projetos de equity, quando há um ganho resultante da venda da participação ou da venda do imóvel, esse valor pode ser taxado como mais-valia. As regras para o cálculo e para a aplicação de taxas podem variar consoante o enquadramento legal do investimento, o tipo de investidor (particular ou empresa) e a existência de tratados internacionais, no caso de plataformas estrangeiras.
3. Tributação para não-residentes
Para investidores que não residem em Portugal, a tributação pode sofrer alterações. Existem convenções para evitar a dupla tributação, e em alguns cenários a plataforma é responsável pela retenção na fonte de impostos. Recomenda-se procurar esclarecimento junto de um contabilista especializado em fiscalidade internacional.
4. Contratos e direitos dos investidores
Ao subscrever um projecto de crowdfunding imobiliário, o investidor deve firmar um contrato que descreve os seus direitos e obrigações, incluindo o prazo do investimento, a forma de distribuição de lucros ou pagamento de juros, e o procedimento em caso de incumprimento por parte do promotor. É crucial ler esses documentos para não ser apanhado de surpresa por clausulados que permitam alterações unilaterais ou penalizações desproporcionadas.
5. Responsabilidade em caso de litígio
Apesar da segurança transmitida pela supervisão da CMVM, é possível que surjam litígios, quer entre os investidores e o promotor, quer entre os investidores e a própria plataforma. Nessas situações, podem aplicar-se leis nacionais ou internacionais, consoante a localização jurídica da plataforma e do projecto. Por isso, é aconselhável conhecer a jurisdição competente para a resolução de eventuais disputas.
Tendências e futuro do crowdfunding imobiliário
O crowdfunding imobiliário em Portugal, e mesmo no contexto internacional, parece ter chegado para ficar. As tendências apontam para uma consolidação do sector, à medida que surgem novas plataformas e que a regulação se torna mais clara e robusta. Eis algumas das possíveis perspectivas de evolução:
1. Maior profissionalização
Com a supervisão cada vez mais próxima dos reguladores, as plataformas têm vindo a melhorar os seus processos, a comunicação com os investidores e a capacidade de filtrar projectos de maior qualidade. No futuro, espera-se uma maior credibilidade e confiança no mercado, tornando o crowdfunding imobiliário uma alternativa viável para muitos investidores.
2. Expansão para mercados de nicho
Além dos projectos residenciais e comerciais tradicionais, o crowdfunding pode penetrar em nichos pouco explorados, como unidades de saúde, lares para a terceira idade, residências de estudantes e espaços de co-living. Estes nichos muitas vezes apresentam rentabilidades interessantes e contribuem para a diversificação do portefólio.
3. Uso de tecnologia blockchain
Algumas plataformas internacionais já experimentam soluções baseadas em blockchain para facilitar a negociação de participações e assegurar a transparência de todo o processo. Esta tecnologia pode permitir a tokenização de activos imobiliários, oferecendo liquidez maior e acesso global a projectos.
4. Integração com o mercado de capitais
À medida que o crowdfunding imobiliário ganha maturidade, pode haver uma aproximação ao mercado de capitais tradicional, com a emissão de títulos mobiliários ligados a projectos de crowdfunding. Esta evolução pode tornar os investimentos ainda mais acessíveis a diferentes perfis de investidores.
5. Foco em sustentabilidade e impacto social
Cada vez mais investidores valorizam a componente social e ambiental nos seus investimentos. O crowdfunding imobiliário pode impulsionar projectos que promovam práticas sustentáveis, eficiência energética, habitação acessível e soluções de regeneração urbana, criando um impacto positivo na comunidade e no meio ambiente.
Conclusão
O crowdfunding imobiliário tem vindo a revolucionar o acesso ao mercado de imóveis, permitindo que pequenos e médios investidores participem em projectos antes reservados a grandes fundos e promotores. Em Portugal, esta modalidade tem conquistado adeptos tanto pela possibilidade de rentabilizar capitais a partir de valores acessíveis, como pela diversificação que oferece em termos de regiões, segmentos imobiliários e prazos de investimento.
Neste artigo, discutimos a origem e os princípios do crowdfunding, o seu enquadramento no sector imobiliário, as vantagens e riscos, bem como as principais plataformas que operam em Portugal. Destacámos também as questões legais e fiscais que influenciam a experiência do investidor, além de apresentar exemplos de projectos bem-sucedidos e perspectivas para o futuro do crowdfunding imobiliário.
É fundamental que cada investidor faça uma análise criteriosa, escolhendo plataformas de confiança e projectos que se alinhem aos seus objectivos e perfil de risco. Em última instância, o crowdfunding imobiliário combina colaboração e tecnologia para disponibilizar oportunidades de investimento, promovendo a democratização do sector e contribuindo para a inovação na construção, reabilitação e uso de imóveis em Portugal.
Gostou deste artigo?
Esperamos que as informações aqui apresentadas o inspirem a conhecer mais profundamente as oportunidades do crowdfunding imobiliário, quer para aumentar o seu património, quer para se envolver em projectos de impacto positivo para as nossas cidades e comunidades. Boa sorte nos seus investimentos!